Termina retirada de posseiros de terra indígena em Mato Grosso
Terminou oficialmente nessa segunda-feira (28) a retirada de não índios da área considerada pela Justiça Federal como sendo a terra indígena xavante Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso.
A Funai (Fundação Nacional do Índio) informou que recebeu ontem do oficial de Justiça o "auto de desocupação final", emitido após um sobrevoo da área, no domingo (27).
A operação de remoção das famílias de posseiros que ocupam a área desde 1992 começou em 10 de dezembro e foi marcada por um conflito com policiais e diversos episódios de tensão, principalmente no distrito de Posto da Mata, em Alto Boa Vista.
Nos quase 50 dias de operação, posseiros denunciaram truculência de agentes das polícias Federal e Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública, que chegaram a usar balas de borracha e bombas de efeito moral.
Em dezembro, a Folha presenciou uma emboscada frustrada feita pelos manifestantes para interceptar um comboio policial e uma armadilha montada para caminhoneiros recém-liberados de quatro dias de bloqueio na BR-158. Um caminhão do governo federal foi incendiado por manifestantes.
A força-tarefa do governo federal realiza agora o plano de transição para que os índios xavantes possam ocupar a terra homologada em 1998 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Segundo a Funai, oficiais de Justiça identificaram 619 residências e pontos comerciais apenas no distrito que ficou conhecido como célula de resistência dos agricultores.
O último Censo do IBGE (2010) indica que 2.427 pessoas viviam em toda a área denominada Marãiwatsédé. A associação local de produtores rurais dizia que eram 7.000.
O governo federal informou que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) cadastrou 235 famílias para assentamento em projetos da região.
Juca Varella - 14.dez.2012/Folhapress | ||
Posseiros se reúnem em assembleia em Posto da Mata, em Alto da Boa Vista (MT) |
SUPERLOTAÇÃO
Com a saída das famílias da área indígena, a Prefeitura de Alto Boa Vista está com dificuldades de administrar o excesso de pessoas que migrou para a sede do município.
O prefeito Leuzipe Domingues Gonçalves (PMDB) abrigou 43 famílias nas duas escolas do município. Quatro ainda estão nas unidades e têm que sair esta semana porque as aulas começam na próxima segunda-feira (4).
"A sociedade e empresários têm feito parceria com a prefeitura e alugado casas, hotéis. Quem tem casa que estava fechada está doando. Mas isso é provisório", diz Gonçalves.
O prefeito diz já ter pedido ajuda ao governo de Mato Grosso e ao governo federal. Terá uma audiência em Cuiabá nesta quinta-feira (31), mas ainda não recebeu resposta do Palácio do Planalto.
Gonçalves disse que será necessário ampliar a estrutura dos serviços oferecidos pelo município. Ele diz acreditar que ao menos 50 dos 180 alunos que estudavam em Marãiwatsédé passarão a frequentar a escola municipal.
ECONOMIA
A retirada de posseiros da terra indígena xavante também afetou a economia de Alto Boa Vista. O prefeito calcula que 500 postos de trabalho foram fechados.
A arrecadação municipal também sofreu baixa. Leuzipe Gonçalves afirma que em dezembro a receita do município foi de R$ 1,2 milhão. Este mês, até agora, a prefeitura arrecadou apenas a metade. O prefeito afirma que fechará o mês com, no máximo, R$ 800 mil.
"Estamos ficando só com os funcionários concursados. Não chamamos ninguém [por contrato]", declara.
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