Com boa estrutura, TVs católicas lutam por maior audiência
Durante sete anos, o padre César Moreira foi comentarista do TJ Aparecida, telejornal exibido de segunda a sexta-feira, às 19h. Mesmo com tanta exposição, ele levou um susto recentemente, ao ser reconhecido por uma mulher enquanto caminhava pela avenida Angélica, região central de São Paulo.
TV católica tem ex-jogador Careca e diretor global
"Somos nanicos", reconhece Moreira, que por 25 anos dirigiu a rádio Aparecida e, desde 2005, a TV Aparecida, uma das quatro redes de televisão católicas que disputam a atenção do telespectador entre si e com emissoras seculares.
Depois de décadas priorizando o rádio, os católicos se voltaram à TV principalmente a partir dos anos 1990, época em que as igrejas pentecostais se tornaram mais visíveis e populares por meio de uma presença agressiva e crescente na telinha.
Passados 18 anos desde que a Rede Vida entrou no ar como a primeira emissora católica de abrangência nacional, as emissoras já contam com boa infraestrutura e empregam centenas de profissionais, mas lutam para ampliar uma audiência estagnada em baixos índices.
A insatisfação com os resultados tem levado a igreja a discutir uma melhor estratégia para a TV e também para outros meios, incluindo as redes sociais. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deve aprovar neste ano um Diretório da Comunicação com parâmetros para o setor e em discussão já há três anos. Hoje, apenas a igreja na Itália tem documento semelhante.
Ao mesmo tempo, os principais canais de televisão católicos se preparam para oficializar em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, a Rede Católica de TV, com o objetivo de aumentar a colaboração entre si.
Para a especialista em comunicação e religião Magali Cunha, da Universidade Metodista, o maior problema das TVs católicas é sua incapacidade de criar uma programação atraente.
"Há uma transposição para a TV da linguagem da igreja. Já as pentecostais nasceram midiáticas", compara.
Cunha afirma que o canal mais bem-sucedido é a Canção Nova. Ligado à Renovação Carismática, adota uma linguagem mais parecida à dos evangélicos.
Editoria de Arte/Folhapress |
CATÓLICOS NA TV Redes ampliam presença no país, mas ainda têm baixa audiência |
Ela lembra que os "padres cantores", também carismáticos, costumam atrair audiência nos programas dos quais participam.
Um deles, Reginaldo Manzotti, acaba de adotar uma estratégia comum entre pastores evangélicos: com ajuda de patrocinadores, passou, há quatro semanas, a transmitir seu programa "Evangeliza Show" aos domingos, na Rede TV!, ao meio-dia.
"A ideia é tentar atingir um público que ainda não fez experiência com Deus, um público diversificado. Eu uso o termo 'pescar em águas mais profundas'. Ir adiante. Acho perigoso a gente pescar no aquário, falar pro mesmo público, pra quem já tem feito a experiência de Deus", afirmou Manzotti, em entrevista por telefone.
O padre, que mantém a TV Evangelizar, em Curitiba, e ganhou três discos de ouro, ressalva que é "muito positivo dar sustentação à fé" via meios católicos, mas se trata de um "público restrito".
Por outro lado, ele discorda que os programas evangélicos sirvam de exemplo.
"A linguagem não é tanto o modo de falar, é questão de conteúdo. Eu poderia muito bem cair numa teologia da prosperidade, mas a Igreja Católica não pode ir nesse caminho em que, se você der um Fusca pra Deus, ele vai restituir com uma Mercedes."
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