Comissão da Verdade de São Paulo confirma depoimento de Delfim Netto
O economista e ex-ministro Antonio Delfim Netto vai depor à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo no próximo dia 25, às 11h, segundo informou nesta quarta-feira (5) o colegiado.
Delfim foi ministro durante o regime militar, nos governos de Costa e Silva e Médici (Fazenda) e de João Baptista Figueiredo (Agricultura).
O economista também foi um dos signatários do Ato Institucional nº 5, conhecido como AI-5, que endureceu o regime e instituiu a censura prévia a partir de 1969.
"Ele era um nome de confiança total do regime militar", disse o vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da comissão.
Segundo Natalini, o colegiado espera que Delfim colabore com informações sobre empresas privadas que teriam colaborado financeiramente com a repressão.
"Temos vários indícios de que empresários brasileiros colaboraram com a arrecadação [financeira] para sustentar o aparato repressivo do governo naquela ocasião. Queremos ouvir do ministro qual foi a participação dele nesse processo junto às empresas como ministro da Fazenda", afirmou Natalini.
Procurada pela reportagem, a assessoria do ex-ministro afirmou que ele não se manifestaria nesta quarta-feira (5).
CALANDRA
A comissão também informou que o delegado aposentado Aparecido Laertes Calandra recusou convite para prestar depoimento ao colegiado.
Calandra já foi apontado por ex-presos políticos como sendo um dos torturadores que atuaram no DOI-Codi de São Paulo, sob o codinome de Capitão Ubirajara.
Entre os ex-presos que afirmam ter reconhecido Calandra estão a ex-militante do movimento MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) Nádia Lúcia Nascimento e o deputado federal José Genoino (PT-SP).
A reportagem tentou entrar em contato com Calandra por telefone, mas uma mulher identificada como Amélia Calandra e que afirmou ser mãe do delegado disse que ele não se encontrava e não se manifestaria sobre o caso.
Em outras ocasiões, Calandra negou ter adotado o codinome de Capitão Ubirajara e disse que tudo isso não passa de um equívoco.
Agora a comissão municipal pretende solicitar à Comissão Nacional da Verdade que convoque o delegado para depor, afirmou Natalini.
"Ele [o delegado Calandra] precisa ser ouvido. Essa pessoa é muito importante porque ele teve papel preponderante no aparelho de repressão e participava pessoalmente das torturas no DOI-Codi. Ele precisa contar ao Brasil qual foi a participação dele lá", disse o vereador.
A comissão municipal não tem poder de convocação. Já a Comissão Nacional da Verdade tem poderes para convocar testemunhas e obrigá-las a depor, mas adotou a prática de convidar as pessoas e só transformar convites em convocações nos casos em que houver recusa.
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