Insegurança econômica aumenta o impacto político dos protestos
Os resultados atuais do Datafolha confirmam a crise de representação como marca das manifestações que ocorreram nas últimas semanas pelo país. O aumento drástico da rejeição ao Poder Executivo é apenas um dos impactos que as imagens de mobilização social provocaram no cenário político nacional.
A frustração da população com os canais tradicionais de participação política e com seus representantes pulverizou-se por diferentes estratos da opinião pública, inclusive nos segmentos que mais apoiam o governo.
Como exemplo, a maioria dos entrevistados pelo Datafolha recusa-se a dizer espontaneamente um nome como candidato para presidente em 2014, comportamento que cresceu 9 pontos percentuais em 20 dias. Dilma, que nessa questão já chegou a ser lembrada por 35%, tem agora apenas 16%.
A mesma tendência é observada na intenção de voto estimulada, em que o índice de sem candidato chega a crescer 12 pontos percentuais em uma das situações propostas pelo instituto.
Outro dado que também ilustra a conclusão é que, nesse mesmo curto período de tempo, cresceu significativamente o percentual dos que negam ter um partido político de preferência.
Assim, não é surpresa o apoio majoritário às alternativas de participação direta sem intermediários, como o caso do plebiscito, e à proposta de uma reforma política. Como também é compreensível o fato de Joaquim Barbosa, sem partido, "top of mind" de combate ao mal político, ser a figura que mais capitalize na crise de representação.
Mas por que neste momento? O campo minado fertilizado pela repressão aos jovens de São Paulo foi a crescente insegurança em relação a variáveis econômicas, especialmente as próximas do dia a dia --desemprego e poder de compra dos salários.
Após a redemocratização do país, impactos negativos na popularidade dos presidentes da República, apesar de nunca tão intensos como o verificado agora, guardam alta correlação com economia, denúncias de corrupção e repressão policial. Os fracassos de planos econômicos dos governos Sarney e Collor, o massacre dos sem-terra em Eldorado dos Carajás em 1996 e a desvalorização do real nos mandatos de FHC, assim como as denúncias sobre o "mensalão" sob Lula, são exemplos de fatos que derrubaram a aprovação de quem ocupava o cargo na ocasião.
Sobre Dilma, a recuperação do apoio popular pode ou não acontecer. E, se acontecer, a velocidade com que isso ocorrerá pode depender da ajuda de seu padrinho político --para a maior parte da população, Lula é o mais indicado tanto para administrar a economia como para lidar com os protestos.
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