Análise: Francisco prega coragem para anunciar a fé cristã e lembra João Paulo 2º
Em suas últimas falas aos participantes da Jornada Mundial da Juventude, neste domingo, pode-se dizer que Francisco teve seu dia de João Paulo 2º. Ele emprestou um dos temas mais caros à retórica do papa polonês, o da coragem para anunciar a fé cristã, como forma de motivar os jovens fiéis a colocarem em prática o que se pregou durante o evento no Rio.
A primeira frase célebre pronunciada pelo papa João Paulo, já no momento em que foi anunciada sua eleição em 1978, foi "Não tenhais medo", citando Jesus nos Evangelhos, e a expressão "sem medo" foi um dos pilares do sermão de Francisco na missa campal desta manhã.
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Como já virou hábito em sua passagem pelo Brasil, o sumo pontífice decidiu organizar sua fala à multidão em torno de três eixos principais, uma estrutura didática que decerto traz à mente a carreira de educador de Jorge Bergoglio na Argentina. Os outros dois pilares da homilia ("Ide" e "para servir") mostram a disposição de Francisco para ensinar pela repetição, trazendo de volta temas que têm sido centrais para seu papado desde o início.
Ao dizer "Ide!" para a multidão dos jovens, Francisco reitera seu programa de uma Igreja Católica que deixe de lado o comodismo e o que ele chama de "clericalismo", apego excessivo às estruturas e modos de ação eclesiásticos. Para ele, qualquer um dos jovens da jornada é um missionário em potencial e deve testemunhar sua fé em todos os ambientes e todas as situações. Seu "colega" jesuíta José de Anchieta, que se tornou missionário no século 16 com apenas 19 anos, é o exemplo a seguir, afirmou o papa.
"Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor", declarou.
Já a expressão "para servir" ilustra a união peculiar entre pregação religiosa e compromisso social que o papa tem enfatizado. Ele voltou a usar a metáfora do lava-pés, a cerimônia descrita no Evangelho de João na qual Jesus lavou os pés de seus discípulos - durante a Semana Santa deste ano, o papa fez questão de lavar os pés de jovens infratores de Roma, entre os quais moças e muçulmanos, o que escandalizou alguns católicos mais conservadores.
"Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus", resumiu ele. "Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo."
Habilidoso ao usar situações bíblicas para ancorar seu chamado à ação, o papa usou como exemplos dessa atitude o profeta bíblico Jeremias, denunciador das injustiças do reino de Judá, e a primeira geração de cristãos, como o apóstolo Paulo e a Virgem Maria.
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