PF faz buscas na sede da Petrobras em operação contra lavagem de dinheiro
Com buscas na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, a Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (11) a segunda fase da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões, com ramificações políticas e na petroleira estatal.
As buscas na sede da Petrobras começaram às 10h. A PF também entregou intimações no local.
A Petrobras informou em nota que a presidente da companhia, Graça Foster, recebeu um delegado e três agentes da PF e ordenou que os advogados entregassem os documentos que a Justiça havia pedido. A empresa não informou quais eram os contratos solicitados pela PF.
Por meio de nota, a PF informou que não precisou cumprir os mandados de busca e apreensão para obter os papeis que procurava na Petrobras porque a presidência da estatal "colaborou com os policiais federais apresentando os documentos, que foram apreendidos e contribuirão para a continuidade das investigações".
Além da própria Petrobras, a PF fez buscas na empresa Ecoglobal Ambiental, de Macaé (RJ). A empresa possui uma filial nos Estados Unidos, a Ecoglobal Overseas, que também é investigada.
Por meio de convite, ambas assinaram em 2013 um contrato com a Petrobras no valor de R$ 443,8 milhões, segundo a PF. Na mesma época da assinatura do contrato, as empresas Ecoglobal negociavam a venda de 75% de suas ações para uma empresa controlada pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. A documentação aponta que o doleiro e o ex-diretor da Petrobras eram sócios em alguns negócios.
A compra estava condicionada "à efetivação do contrato da Ecoglobal com a Petrobras", segundo mandado expedido pela Justiça Federal do Paraná. A proposta de compra por R$ 18 milhões está registrada numa carta-proposta confidencial assinada por Youssef, Paulo Roberto e uma terceira empresa, a Tino Real Participações.
Uma das sócias da Tino Reral, Maria Thereza Barcellos da Costa, teria relações com uma pessoa "envolvida aparentemente em crimes relacionados a fundos de pensão", segundo despacho da Justiça. O juiz manifesta sua "estranheza" com o fato de que uma empresa que obteve contrato de R$ 443,8 milhões tenha 75% de suas cotas negociadas por apenas R$ 18 milhões.
Youssef e Paulo Roberto foram presos na primeira fase da Operação Lava Jato, por manter relações suspeitas com políticos do PT, PMDB, PP.
O mandato do juiz diz que os fatos sugerem que o doleiro e o ex-diretor da Petrobras atuaram para conseguir o contrato de R$ 443,8 milhões.
Paulo Roberto foi preso no dia 20 de março, sob acusação de tentar destruir provas buscadas pela PF. O ex-diretor da Petrobras recebeu um jipe Land Rover Evoque de Youssef, no valor de R$ 250 mil.
Costa alega que o Land Rover Evoque foi pagamento por consultorias prestadas, mas a PF tem dúvidas sobre essa alegação.
Até as 12h, a PF havia prendido em São Paulo um doleiro ligado à doleira Nelma Kodama. Ela foi presa no dia 14 de março quando tentava deixar o país com 200 mil euros escondidos na calcinha. Kodama e Youssef já tiveram negócios associados, mas tudo indica que operam em redes separadas atualmente.
Ao todo, os policiais cumprem 24 mandados, sendo dois de prisões temporárias, seis conduções coercitivas –quando o investigado é procurado e obrigado a depor– e 16 de buscas em São Paulo, Campinas, Macaé, Niterói e Rio de Janeiro. Originalmente, eram 24 mandados, mas houve duas conduções coercitivas e uma busca a mais.
"O material arrecadado hoje contribuirá para os relatórios finais dos inquéritos em andamento", informou a PF.
A Petrobras não quis comentar a contratação da Ecoglobal, considerada suspeita pela PF e pela Justiça federal.
Até a publicação da reportagem, a Folha não havia localizado ninguém da Ecoglobal para falar sobre a operação.
Com colaboração de FERNANDA ODILLA, de Brasília, e OSNI ALVES, do Rio.
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