Aos 84 anos, deputado mais antigo não consegue se reeleger
Na vida pública desde o ano da morte da cantora Carmem Miranda (1909-1955), o deputado federal Mauro Benevides (PMDB-CE), 84, não conseguiu renovar seu mandato no último dia 5.
Benevides teve 60.201 votos e ficou na primeira suplência do PMDB –que fez só três federais no Ceará.
A trajetória parlamentar do peemedebista inclui a Câmara de Fortaleza, quatro mandatos na Assembleia cearense, cinco na Câmara dos Deputados e dois no Senado.
Benevides foi filiado ao antigo PSD, que existiu entre 1945 e 1965, mas, com o bipartidarismo no regime militar, migrou para o MDB (atual PMDB), onde ainda permanece.
Para ele, a explicação para a derrota passa longe dos protestos de 2013 e dos pedidos de renovação na política.
"Estava eleito até as 20h de domingo, mas dois deputados campeões de voto de outra coligação puxaram outros três candidatos e me atropelaram. Quem poderia esperar por isso?", diz, aos risos.
Quando Benevides entrou na política o físico alemão vencedor do Nobel Albert Einstein (1879-1955) ainda era vivo, o Brasil não tinha conquistado nenhum dos seus cinco títulos mundiais de futebol e Café Filho presidia o país após o suicídio de Vargas, ocorrido um ano antes.
Mesmo com o revés nas urnas, o político não fala em aposentadoria e prepara um livro de memórias sobre seus 59 anos de vida pública, que leva o título provisório de "Se não me falha a memória".
"Estou na suplência e posso entrar a qualquer momento. Ainda acho que tenho muito a contribuir", diz.
PRESIDENTE INTERINO
No livro, o cearense destacará as 12 vezes que governou o Estado de forma interina e os "três dias e meio" em que presidiu o Brasil.
À época presidente do Senado, Benevides se sentou na cadeira presidencial em 1992, quando Itamar Franco (1930-2011) viajou para encontro do Mercosul na Argentina.
"Agi com a maior discrição que se exige de um presidente interino, mas estava explodindo de alegria por dentro", diz ele, que assinou um único documento presidencial.
Benevides cita Itamar e Fernando Henrique Cardoso como "grandes estadistas" com quem conviveu. Mas coloca os dois abaixo do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). "Tinha um trato diferente. Faltam políticos como ele hoje em dia."
Nas eleições deste ano, além da derrota, o veterano também enfrentou uma situação inusitada. Seu filho, o deputado estadual Mauro Filho (Pros), concorreu ao Senado numa chapa rival.
Benevides estava na mesma coligação de Tasso Jereissati (PSDB), que venceu a disputa com 58% dos votos, contra 39% de Mauro Filho.
Questionado sobre em quem votou para o Senado, Benevides eleva o tom. "Retire essa pergunta, por favor. É claro que votei no meu filho. Tasso é amigo de longas eras, mas como não vou votar no meu filho? A política não pode estar acima de tudo. Nunca", finaliza.
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