Cunha usou laranjas em negócios no exterior
Informações repassadas pela Procuradoria-Geral da República ao STF (Supremo Tribunal Federal) mostram que uma das contas atribuídas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem como testas de ferro pessoas de Cingapura, Austrália, Argentina e Uruguai.
O uso de testas de ferro é um recurso empregado para tentar dissimular o real proprietário de um bem.
A Folha apurou que a offshore Netherton Investment tem como responsáveis duas mulheres, uma de Cingapura e outra da Austrália.
Já um argentino e um uruguaio abriram uma conta em nome da empresa no banco suíço Julius Baer por intermédio do escritório de consultoria Posadas Y Vecino.
O uruguaio é Luis Maria Pittaluga, que, na mesma época, ajudou o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a abrir conta na Suíça, conforme revelou a Folha na sexta (16).
Os documentos em poder do Ministério Público mostram, entretanto, que o real beneficiário da conta é Eduardo Cunha. Ela foi aberta em setembro de 2008, mas acabou sendo alvo de bloqueio judicial em abril de 2015, com saldo de US$ 2,3 milhões.
Os dados constam do material repassado pelo Ministério Público da Suíça ao Brasil e que embasou a abertura de novo inquérito no STF para investigar se o presidente da Câmara e familiares dele estão envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras.
Em nota divulgada na sexta (16), Cunha disse manter as declarações prestadas em depoimento à CPI da Petrobras, em março, quando negou ter contas secretas no exterior.
O peemedebista diz que "nunca recebeu vantagem de qualquer natureza, de quem quer que seja, referente à Petrobras ou a qualquer outra empresa, órgão público ou instituição do gênero".
MAIS ENVOLVIDOS
Com a autorização do STF para iniciar as apurações, investigadores preparam o cruzamento de dados para descobrir o caminho que o dinheiro percorreu ao passar pelas quatro contas no exterior atribuídas ao deputado e familiares.
Segundo pessoas próximas à apuração, a ideia é avaliar se Cunha realizou transações financeiras que beneficiaram políticos e outros envolvidos nos desvios da estatal.
O material enviado à Procuradoria-Geral da República pelo Ministério Público da Suíça indica entradas de
R$ 31,2 milhões e saídas de R$ 15,8 milhões, entre 2007 e 2015, em valores corrigidos, nas contas de Cunha e da mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz.
Os depósitos e retiradas foram feitos em dólares, francos suíços e euros. As informações mostram uma intensa circulação de dinheiro entre as contas, não sendo possível calcular quanto dinheiro foi realmente gasto.
O deputado, a mulher dele e uma de suas filhas, Danielle Cunha, serão investigados por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Para procuradores, como o material enviado pela Suíça é "robusto" em relação a essas contas, a expectativa é de que as investigações transcorram com celeridade.
Ao final, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai decidir se oferecerá denúncia ao STF contra os três. Num primeiro momento, a Procuradoria descartou pedir as prisões da mulher e da filha de Cunha.
Segundo uma fonte ouvida pela Folha, a Procuradoria avaliaria pedir a prisão do peemedebista caso ele não fosse parlamentar, dados os elementos que foram apresentados contra ele. A Constituição, no entanto, só permite que um deputado seja preso em caso de flagrante.
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