Ministro mandou pagar dívida de campanha com caixa 2, diz Delcídio
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou em seu depoimento aos procuradores que tentou pagar R$ 1 milhão de dívida de campanha com duas empresas da área de publicidade, a FSB e a Black Ninja, com recursos de caixa dois que seriam pagos pelo Laboratório EMS.
Segundo ele, a dívida foi gerada na campanha a governador de 2014 e ele pediu ajuda à Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff e hoje ministro da Secretaria de Comunicação do governo, que disse a ele para avisar às empresas para gerarem uma nota cobrando R$ 500 mil cada uma ao Laboratório EMS.
De acordo com o Senador, as notas chegaram a ser emitidas mas as empresas depois retiraram os documentos alegando que o nome da EMS havia sido envolvido em denúncias contra o governo. Delcídio afirmou ainda que Edinho pediu para ele procurar o ministro da Educação Aloizio Mercadante, que seria próximo a EMS. Mercadante não teria ajudado e a dívida ficou pendente.
O senador afirmou ainda que nos últimos anos o setor de saúde tem sido alvo de interesse dos políticos para obter vantagens, o que se reflete na nomeação de diretores para as agências reguladoras do setor, a Anvisa (que cuida de laboratórios) e a ANS (planos de saúde).
Lucas Lacaz Ruiz/A13 | ||
Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva |
BNDES
Delcídio aponta ainda que pelo menos três empresários relataram a ele que Luciano Coutinho, presidente do BNDES, pede "sutilmente" apoio ao partido para liberar empréstimos.
De acordo com o depoimento, "em período eleitoral, muitas empresas buscam financiamento do BNDES (...) nas reuniões corn Luciano Coutinho, este, de maneira muito sutil, muito elegante, afirma que estão tramitando os pedidos das empresas e aparece outra conversa: 'nos ajudem, nas apoiem' ", disse o senador em depoimento citando ter ouvido o mesmo relato dos donos das empreiteiras Constran, Engevix e IESA, mas ressaltando que nunca presenciou nenhuma das reuniões.
BELO MONTE
Em seu depoimento, Delcídio aponta que houve pagamento de propina das empresas que participam da construção da Usina de Belo Monte, operacionalizado pelos ex-ministro Antonio Palocci, Erenice Guerra e Silas Rondeu. Segundo ele, R$ 30 milhões teriam irrigado campanhas em 2010 e 2014 do PT e do PMDB.
A acusação de Delcídio é baseada em conversas que ele diz ter tido com João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, e Flávio Barra, diretor da empreiteira Andrade Gutierrez, líder do consórcio Construtor.
O senador ainda aponta que o empresário José Carlos Bumlai, preso na operação Lava Jato, e o ex-governador do Pernambuco Eduardo Campos, morto em 2014, defendiam interesses de empresas que queriam fornecer equipamentos para a usina e que a escolhida foi a Impsa, defendida por Braga quando era senador pelo PMDB.
BUMLAI
De acordo com Delcídio, Bumlai também fazia lobby para empresas do setor frigorífico junto ao BNDES. Ele confirmou depoimento dado pelo próprio Bumlai de que pegou empréstimo no Banco Schahin para pagar dívidas do PT, entre elas com empresários da região de Santo André (SP) que estariam chantageando o partido, e que depois a Schahin foi compensada com um contrato de fornecimento na Petrobras.
Ele também aponta que tentou ajudar Bumlai em outro negócio, esse do Grupo Bertin, que tentava interceder junto à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para reduzir multas pelo grupo não ter cumprido contratos de construção de usinas. Delcídio afirma que conseguiu uma reunião com diretores da agência mais não sabe se o problema foi resolvido.
ALSTOM
O senador também afirma que não recebeu propina por um contrato, assinado ainda na gestão de Fernando Henrique Cardoso, para o fornecimento de turbinas da Alstom para uma termelétrica na Bahia. Segundo ele, o contrato foi assinado um dia antes de sua posse.
Ele afirma que havia a informação de que a empresa pagou ao ex-ministro Rodolpho Tourinho, então indicado pelo PFL (hoje DEM), R$ 10 milhões por esse contrato, já que a turbina era de má qualidade e já havia dado problemas em outros países, mas que ele não recebeu recursos ilegais.
MARÍTIMA
Delcídio também afirma que a Marítima foi beneficiada em contratos com a Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso. A empresa na época pertencia ao empresários German Eframovich, atualmente dono da Avianca.
Segundo ele, a empresa era pequena e foi contratada por valores milionários para fornecer sondas para a estatal. A entrega teria atrasado e ficado mais cara, levando prejuízos à Petrobras. Segundo ele, as "ilicitudes" dessa época eram tanto para enriquecimento pessoal como para financiamento de partidos. Mas ele não aponta quem foi beneficiado pelo esquema.
OUTRO LADO
Em nota, Edinho disse as acusações feitas pelo senador petista são uma "mentira escandalosa". Ele afirmou que jamais manteve contato com as mencionadas empresas antes ou durante a campanha eleitoral.
"Isso é facilmente comprovado. As doações para a campanha de Dilma Rousseff em 2014 estão todas declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral, bem como os fornecedores", disse. "As contas da campanha foram todas aprovadas por unanimidade pelos ministros da Justiça Eleitoral", acrescentou.
A FSB Comunicação informa que trabalhou na campanha e não recebeu a totalidade dos pagamentos pelos seus serviços prestados, razão pela qual entrou com um processo de cobrança contra o Diretório do PT do MS.
A empresa informa ainda que "nunca prestou serviços para a EMS, que, inclusive, manifestou-se à imprensa confirmando o fato.
"Em seus 36 anos, a FSB sempre se pautou pela ética nos seus negócios. Estamos analisando com nossos advogados as medidas cabíveis diante do ocorrido", afirma.
Em nota, o BNDES informou que rechaça as insinuações do senador e que "qualquer processo de concessão de crédito por parte do Banco é baseado exclusivamente nas boas práticas bancárias, com critérios impessoais e técnicos" e que as ações do banco e do presidente "sempre foram pautadas pela lisura e pelo estrito cumprimento pleno das disposições legais e regras da própria instituição".
O Grupo Bertin informou que "está seguro que os empréstimos obtidos junto ao BNDES seguiram todos os trâmites daquela instituição, sem interferências de profissionais alheios às operações".
A Norte Energia e a Black Ninja não responderam; o empresário German Eframovich não foi localizado.
Leia a íntegra da delação:
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