Para alavancar redes sociais, MBL aposta em dupla de 'memeiros'
Foi em um galpão na Vila Mariana que o MBL (Movimento Brasil Livre) montou seu quartel-general. É ali, em meio a manchetes de jornal, fotos das manifestações que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), bandeiras do grupo e até um fliperama, que o movimento produz conteúdo para seus fãs.
Em outubro de 2016, após a queda de Dilma, o MBL contava com 1,5 milhão de curtidas no Facebook. Hoje, já são quase 2,5 milhões. Questionado sobre a contratação de especialistas para a comunicação digital, o líder Kim Kataguiri, 21, responde: "nós somos os especialistas".
Segundo ele, a "fórmula MBL" é a soma de um funkeiro, um cineasta, um programador, um articulador político e "memeiros" (aqueles que produzem "memes").
Divulgação/MBL | ||
Arthur França, 24, e Rafael Rizzo, 25, os "memeiros", dão expediente no escritório da Vila Mariana |
Kim diz que o grupo funciona em esquema de "liderança compartilhada" –todos os assuntos são discutidos, mas a palavra final é de quem entende mais. "Quando o assunto é marketing, a última palavra é do Pedro [Ferreira, 34], por exemplo."
No time do MBL, uma das funções de Kim é ser "o chato do português". Por isso, textos oficiais sempre passam por ele. "Os 'memeiros' já tiveram aula sobre vírgula, uso dos porquês, verbos transitivos diretos e indiretos e crase."
Um "meme" é uma publicação com amplo potencial de reprodução somada a uma dose de humor.
No caso do MBL, os "memes" estão vinculados à defesa da ideologia liberal e frequentemente são agressivos.
O grupo já foi alvo de processo e chegou a ser condenado a pagar R$ 20 mil a um jornalista da Rede Globo.
Na semana de 20 a 26 de agosto, foram produzidos, em média, dois por dia.
Em um deles, os "memeiros" desenharam uma lágrima em uma foto do presidenciável Ciro Gomes (PDT). A imagem acompanhava o texto: "Aquele momento em que anunciam a privatização da Casa da Moeda".
O tempo para a produção de um "meme" é variável. "'Meme' urgente de notícia sai em dois minutos", diz Kim. "Mas pode levar até 30 minutos, se for uma montagem mais complexa."
E o salário dos "memeiros"? "Fixo e secreto", afirma Kim.
Rafael Rizzo, 25, e Arthur França, 24, os "memeiros", dizem trabalhar cerca de 12 horas diárias. Os dois também administram as redes do MBL como um todo. Segundo eles, o tempo passa rápido.
"Me divirto da hora que chego até a hora que saio", afirma Arthur.
Ex-estudante de publicidade, Arthur trancou a faculdade e entrou no grupo há cerca de nove meses. "Falaram que precisava editar vídeo, mexer no Photoshop e fazer piadas", conta.
Rizzo se juntou ao MBL em 2015, após administrar o Twitter de Paulo Batista, que em 2014 ganhou fama como candidato que posava de super-herói lançando um "raio privatizador".
Batista não foi eleito deputado estadual, mas Rizzo continuou no ramo das mídias sociais. Em sua página pessoal, ele informa que é "Diretor de Memes" na empresa MBL.
Arthur afirma que o trabalho nunca para. "Você terminou um 'meme' e já vai atrás de outro. É incessante", diz.
Kataguiri conta que Rizzo o acordou de madrugada em algumas ocasiões, como na condução coercitiva de Lula, para pedir que gravasse um vídeo.
Quando veiculada a notícia da gravação entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer, Arthur já havia deixado o trabalho e estava em um estúdio de tatuagem. Ele diz que Rizzo o ligou e cobrou: "A República caindo e você fazendo tatuagem?".
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