Bolsonaro e Marina podem ter menos TV que Enéas em 1989
Fotomontagem | ||
O deputado Jair Bolsonaro e a ex-ministra Marina Silva |
Na primeira eleição presidencial direta após o fim da ditadura militar, um candidato calvo e com espessa barba negra se notabilizou ao aparecer diariamente na propaganda da TV com um discurso acelerado e invariavelmente encerrado com o bordão "meu nome é Enééééas!".
Daqui a alguns meses, importantes concorrentes ao Palácio do Planalto podem reviver os apuros enfrentados por Enéas Carneiro (1938-2007) há quase 30 anos.
Disputando o segundo lugar nas pesquisas, Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSC) –que negocia ingresso no PEN– poderão bater uma espécie de recorde caso não consigam formalizar alianças.
Projeções para a divisão do horário eleitoral em 2018 - Pré-candidatos
Em 1989, Enéas tinha 15 segundos a cada bloco. Projeção da Folha para o tempo a ser distribuído entre os candidatos em 2018 mostra Marina com 12,8 segundos e Bolsonaro com 10 segundos em cada bloco –um à tarde e outro à noite, nas terças, quintas e sábados dos 37 dias que antecedem o 1º turno.
Um pouquinho a mais do que Usain Bolt levou para cravar o recorde mundial da prova de 100 metros rasos (9s58).
A divisão do tempo de TV obedece a duas regras: 90% são proporcionais à bancada de deputados federais eleita pelos partidos e 10% são distribuídos igualitariamente entre os candidatos.
A Folha considerou na projeção dez candidaturas presidenciais –uma variação para mais ou para menos resultará em alterações mínimas no cálculo.
A propaganda será realizada de 31 de agosto a 4 de outubro de 2018 –a eleição é no dia 7– e se divide em dois blocos de 12m30seg, um à tarde e o outro à noite, além de inserções de 30 segundos ou 1 minuto em intervalos.
As inserções são consideradas mais importantes ainda pois pegam o eleitor "de surpresa", incluindo aquele que se recusa a assistir o horário eleitoral. A regra de divisão é a mesma.
Marina e Bolsonaro terão direito a uma inserção de 30 segundos a cada dois dias.
A única saída para contornar essa situação é a coligação com outras legendas, que agregam tempo de TV.
Nas sete eleições presidenciais diretas após a ditadura, em quatro foram eleitos os que tiveram maior tempo de propaganda.
Em duas, aqueles com o segundo maior. Em 1989 houve o único resultado fora da curva. Ulysses Guimarães (PMDB) tinha o maior tempo, mas acabou em sétimo.
REDES SOCIAIS
Um discurso comum dos pré-candidatos com pouco tempo é o de que a televisão tem importância decrescente em decorrência da popularização das redes sociais.
Um dos pontos aprovados pela reforma política, inclusive, é a permissão do "impulsionamento de conteúdo", que é o pagamento para que postagens alcancem um maior número de seguidores.
"A TV tem importância, mas não é o único canal para apresentar as propostas e debater com a sociedade", diz Bazileu Margarido, coordenador-executivo nacional da Rede.
Segundo ele, o partido procura alianças, mas de caráter programático, não com o objetivo de ampliar o espaço de propaganda.
João Amoêdo, do Novo, também diz ver como decrescente a importância da TV e cita a disputa municipal de 2016, quando o partido, criado em 2015, usou o minúsculo tempo apenas para "fazer chamada" para a internet. "Nossa aposta vai ser nas mídias sociais".
O presidente do PDT, Carlos Lupi, afirma que a importância do tempo de TV está decaindo. O partido busca aliados para Ciro Gomes (CE), que deve ter 34 segundos a cada bloco.
Os maiores tempos de TV são do PT, com 1min35,7s em cada bloco, do PMDB, com 1min25,5s e do PSDB, que tem 1min18,5s.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade