Limpas, energias solar e eólica são aposta brasileira
Graças à rápida ascensão da energia eólica e a um avanço bem mais lento, porém promissor, da energia solar, a matriz energética brasileira continuará a ter mais ou menos a mesma proporção de fontes renováveis de hoje até meados da próxima década: pouco mais de 40% (ou pouco menos de 80%, considerada só a energia elétrica).
"A tendência, no horizonte de dez anos, é você ter mais ou menos a mesma capacidade instalada de renováveis, com a relativa diminuição das fontes hidráulicas e o aumento da energia eólica", diz Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ligada ao Ministério das Minas e Energia.
A energia eólica no país deve dobrar até o fim deste ano, e estima-se que cresça no mesmo ritmo até 2015, alcançando, em mais alguns anos, o equivalente ao produzido pela hidrelétrica de Itaipu.
Lalo de Almeida/Folhapress | ||
Operários trabalham em obra da usina de Belo Monte (PA) |
"A situação também está cada vez mais favorável em termos do preço, hoje inferior ao da energia das pequenas centrais hidrelétricas ou das termelétricas a biomassa", diz a engenheira eletricista Eliane Fadigas, especialista em energia eólica da Escola Politécnica da USP.
Em meados da próxima década, segundo Tolmasquim, a geração de energia solar também deve ganhar mais relevância. Além dos já conhecidos painéis fotovoltaicos, muitos especialistas vislumbram a chamada CSP ("potência solar concentrada"), ou usinas heliotérmicas.
O princípio é simples: usando aparatos ópticos, como espelhos, a luz solar é concentrada numa pequena área, de forma a gerar vapor, o qual movimenta turbinas.
"O semiárido [no Nordeste] é uma região de excelente potencial heliotérmico", diz Elton Rossini,da UFRGS.
O custo da energia solar ainda é proibitivo em todo o mundo, mas ela tem vantagens econômicas, como permitir que o usuário "doe" energia para o sistema em horários ociosos, sendo recompensado por isso mais tarde.
Na conta de Jerson Kelman, ex-presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), gerar energia localmente em telhados de painéis solares já é economicamente viável. O problema, diz, é o modo atual de cobrança, que não distingue eletricidade produzida localmente daquela transmitida por grandes distâncias. "Governos estaduais poderiam mudar essa política míope", diz.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
LONGO PRAZO
O cenário futuro para a matriz energética do país fica mais nebuloso quando se considera o período posterior a 2030. Segundo Tolmasquim, a tendência é que quase todo o potencial hidrelétrico "aproveitável" do país já terá sido usado então. "Mesmo agora, há poucas áreas onde construir grandes reservatórios, em especial quando consideramos o custo socioambiental disso", diz.
Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, considera uma vantagem, nesse cenário, o fato de o Brasil ter uma legislação ambiental rigorosa, ainda que isso implique uma batalha judicial cada vez que se projeta uma hidrelétrica.
Diante disso, Tolmasquim antevê algum aumento das termelétricas a gás natural. O uso dessa fonte fóssil para geração de energia pode ser atenuado com carros híbridos (dotados também de motor elétrico), que reduziriam emissões pela metade. "Carros movidos apenas a combustíveis fósseis devem desaparecer lá por 2030", diz.
Colaborou RAFAEL GARCIA