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Serafina

Aos 91 anos, fotógrafo German Lorca mostra série de imagens inéditas feitas em NY

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Era 1966. O fotógrafo paulistano German Lorca, então com 44 anos, realizava um velho sonho, o de conhecer Nova York, a cidade de onde vinham seus equipamentos. "Cheguei lá e fiquei com tontura. Por mais que você veja a cidade nos filmes, ao vivo ela tem dimensões inacreditáveis."

Lorca capturou algumas imagens bem-humoradas e intrigantes de Manhattan. Numa delas, as crianças fazem fila na calçada, diante de um hidrante aberto, prontas para brincar com o jato d'água. Algumas dessas fotos em preto e branco permaneceram inéditas até agora, reveladas nas páginas da Serafina. O conjunto vai ser exposto no segundo semestre de 2014, na Galeria Fass, em São Paulo.

"Naquela época, me disseram que havia mais de 5.000 fotógrafos em Nova York, muitos deles bons. Era uma concorrência dos diabos." Mas o olhar do brasileiro apanha um sentido de diversão iminente, marca do seu trabalho, também visível na imagem de uma mulher que vem ao encontro da câmera na calçada, com um garotinho oriental mandando ver num sanduíche, logo atrás.

Um dos maiores expoentes de uma geração de fotógrafos que despontou durante a década de 1960 e da qual fizeram parte nomes como José Yalenti (1895-1967) e Geraldo de Barros (1923-1998), Lorca e o movimento modernista que o abrigava caracterizavam-se por uma atenção especial às formas geométricas na fotografia. Priorizando paisagens urbanas e o uso do preto e branco, o fotógrafo é hoje o único remanescente vivo de sua geração. Atualmente, a estética modernista experimenta uma nova onda de valorização por parte do mercado de arte e vem ganhando cada vez mais espaço em mostras e galerias.

Lorca tem uma memória (e um acervo) privilegiada. Em 1947, comprou o primeiro equipamento e os três primeiros rolos de filme. "Não perdi nenhuma das fotos que fiz desses rolos", diz. O fotógrafo, que não é parente do poeta espanhol Federico García Lorca (1898-1936), é filho de imigrantes espanhóis vindos de Málaga. Nascido no Brás, na região central de São Paulo que era reduto espanhol naqueles tempos, Lorca estudou ciências contábeis antes de virar artista. "Meu pai não gostou nem um pouco da minha mudança de profissão."

CLUBE DA FOTO

Hoje em dia, aos 91 anos, o fotógrafo sobe e desce as escadas do seu estúdio, na Vila Mariana, e caminha pelo bairro sempre que possível. Numa dessas caminhadas, viu uma cadeira branca encostada num muro. Achou que daria uma boa foto, sacou a máquina e eternizou a cena, do mesmo jeito que vem fazendo desde que começou na fotografia. Só que desta vez usou uma máquina digital, uma das sete Leicas que possui.

Em outubro, o veterano fotógrafo lançará, pela Cosac Naify, um livro com uma retrospectiva de sua carreira, apresentando suas fotos mais clássicas.

Na verdade, a vocação só tomou conta da vida dele no começo dos anos 1950. Durante os anos 1940, o autodidata foi se formando nas acaloradas discussões do Foto Cine Clube Bandeirantes, agremiação que reunia amadores curiosos de todas as profissões. "Havia o bloco dos interessados na arte, comigo, o Geraldo de Barros e o Thomas Farkas (1924-2011), e o bloco dos interessados em fotos de domingo: isso dava discussões intermináveis."

Os membros do clube propunham temas, e os fotógrafos saíam atrás das imagens. "Mas ninguém aceitava uma imagem fora de foco, e a gente, de vez em quando, fazia algumas." Lorca, Barros e Farkas ficaram conhecidos pelos ângulos inusitados e pelo experimentalismo. Numa das fotos daquele período, cujo tema era chuva, Lorca fez a sobrinha sair de casa e pular a mesma poça no meio-fio, diversas vezes, até chegar ao ângulo desejado.

Começou a trabalhar fotografando casamentos. "Era uma vida difícil. Você começava às duas da tarde e só ia terminar por volta das duas da manhã." Ele registrou uma das uniões mais célebres de São Paulo, o da cantora Maysa com André Matarazzo, o primeiro casamento da Catedral da Sé, no dia 24 de janeiro de 1955. Uma das imagens mais conhecidas da cerimônia mostra o casal bem ao fundo, enquadrado por gigantescas colunas góticas.

Lorca voltou a Nova York, sempre fotografando e comprando equipamentos, mais umas seis ou sete vezes –a última delas em 2011.

"Fiz imagens do alto do Empire State em três décadas diferentes. E do topo do World Trade Center em duas ocasiões." Assim como fotografou muito o Central Park e imaginou uma porção de construções modernistas, com imagens sobrepostas que acabavam desvelando outros significados.

"Inventei umas coisas bem malucas", ele diz, embaralhando e sobrepondo fotos dos arranha-céus. Ou simplesmente focando pessoas nas escadas da Washington Square, ou fantasmagóricas roupas brancas, sem manequins, penduradas numa vitrine, mostrando que a Nova York de Lorca não deve nada a nenhum dos grandes fotógrafos que têm percorrido a cidade desde a invenção da fotografia.

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