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Serafina

Estilista italiano Riccardo Tisci vende camisas de R$ 1.000 e promete projetos em favelas

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No atual jogo da moda há apenas cinco pessoas capazes de balançar o tabuleiro e criar referenciais de estilo que serão seguidos por toda a indústria, do alto luxo ao fast fashion, e, consequentemente, cairão no guarda-roupa de todas as classes sociais.

São eles: a italiana Miuccia Prada, estilista da grife que leva seu sobrenome; o alemão Karl Lagerfeld, imperador da Chanel; o belga Raf Simons, diretor criativo da Dior; o americano Marc Jacobs, porta-voz do pop chique; e o italiano Riccardo Tisci, rei do "streetwear" que há quase dez anos reposicionou a Givenchy no ranking das grifes mais "cool" do mundo.

Nem John Galliano nem Alexander McQueen, antigos estilistas da marca francesa, conseguiram o que Riccardo, hoje com 39 anos, conquistou quando assumiu a Givenchy em 2005.

Ao questionar temas como gênero, ebulição social e conceitos de beleza, tanto na passarela quanto nas araras —porque tudo o que é desfilado por ele vai para a vitrine, ao contrário do que acontece com 90% das marcas de moda—, o estilista imprimiu animais, santos e até a favela carioca nas roupas de gente como a atriz Cate Blanchett, a cantora Madonna, o rapper Kanye West e garotos dos subúrbios de Paris e Nova York.

E isso não é pouco para alguém que nasceu numa família pobre de Puglia, no sul da Itália, não tinha amigos influentes e diz ter ojeriza ao mundinho fashion.

"Me expresso por meio da moda, mas não faço parte dela. Tudo, infelizmente, está caminhando para uma superficialidade assustadora. Os fashionistas pensam que são vanguardistas, mas descobri que, no fundo, são as pessoas mais preconceituosas e avessas a transformações", diz Riccardo, em entrevista em São Paulo.

O ranço com que fala sobre seu meio vem dos anos difíceis que passou para convencer a tradicional moda francesa, cheia de pompa, de que as roupas precisam ser reflexos da rua, não de um grupo seleto de pretensos artistas.

"Até porque tudo se resume a vendas. Arte tem mais a ver com emoção. Ninguém é artista nesse meio".

Quando apostou na brasileira Lea T., modelo transexual e uma de suas melhores amigas, como rosto da coleção de alta-costura da grife, em 2010, chocou o mercado de modelos. Logo, surgiram outras tops transexuais, como Andrej Pejic e Oliwer Mastalerz.

"Lea foi um escândalo. Durante seis meses, fui tachado de louco pela moda. Mas, depois que intelectuais e revistas de filosofia começaram a discutir, a partir dela, a questão da transexualidade, todo mundo achou aquilo 'fashion'. E muita gente viu que transexuais podem ser lindas, interessantes e humanas."

Quando Lea T. entra no quarto do hotel em que o estilista recebe a reportagem, os cigarros diminuem —foram quatro em mais de uma hora de conversa— e os sorrisos aumentam. "Ela é meu anjo."

Anjos, demônios e religião fazem parte do universo de Riccardo Tisci, que diz ser fã do novo papa, o argentino Francisco. Na América Latina, em especial no Brasil, ele colheu as referências barrocas, profanas e étnicas que já usou em suas coleções.

Esteve 12 vezes em São Paulo, 21 vezes no Rio, conheceu o trabalho das tecelagens mineiras, passeou pelo arquipélago pernambucano de Fernando de Noronha, e pelo balneário ("fashion demais", segundo o estilista) Trancoso e os terreiros de candomblé. Os dois últimos na Bahia.

"Como pode haver preconceito com essa religião no Brasil? Ela é muito parecida com a católica, cheia de imagens santificadas, conceitos sobre pecado e vida após a morte", diz, divagando sobre sua experiência "transcendental" nos terreiros baianos.

"É porque tem origem africana? Mas vocês têm uma linda madona negra", diz, citando Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil.

Outra quebra que Riccardo promoveu por meio da moda está relacionada à questão étnica. "Me perguntam se não tive medo de colocar vários modelos negros na passarela. Se considerarmos que muitos franceses têm ascendência africana, isso é uma bobagem. As ruas pediam isso."

Essa proximidade com as culturas latinas e de raízes africanas fizeram dele um ícone entre alguns jovens do Brasil, que viajam ao exterior para comprar a camiseta com a inscrição "Favelas 74" (o número diz respeito ao ano de nascimento do estilista), que sai por cerca de R$ 1.000, e os tênis de sua parceria com a Nike, que custam US$ 200 o par.

"Sei que muitos brasileiros juntam dinheiro para comprar minhas criações. Isso tem muito a ver com a minha história, porque, quando era jovem, eu economizava para comprar jeans Versace e camisas Helmut Lang."

FILANTROPIA FASHION

Riccardo conta que, nos próximos dois anos, a grife deve entrar no mercado brasileiro. "Fechei todas as lojas Givenchy quando assumi a direção criativa e, aos poucos, estamos reabrindo os pontos de venda."

A filantropia, diz ele, também é uma das prioridades em sua agenda. No começo de abril, foi embaixador da festa que a amfAR, organização que arrecada fundos para a descoberta da vacina anti-HIV, armou em São Paulo. Na bagagem, trouxe as tops inglesas Kate Moss e Naomi Campbell para chamar a atenção dos milionários para a causa.

"Se você tem dinheiro, tem de investir em mudanças. Acho horrível gente que se diz caridosa por dar dinheiro para os pobres. Até faço isso, mas não dá pra fazer da caridade um marketing", diz, e se contradiz.

A primeira investida "in loco" de Riccardo no Brasil se dará no novo projeto que ele pretende lançar em parceria com sua amiga e "mãe", a artista performática sérvia Marina Abramovic.

"O projeto tem a ver com as crianças das favelas do Rio. Não posso contar muito porque as pessoas adoram roubar minhas ideias. Mas ela e eu vamos criar bastante coisa ali."

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