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Serafina

Análise: Adaptações devem ser vistas com entusiasmo e alguma reserva

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Milton Hatoum se tornou um consenso entre a crítica e os leitores na contramão das tendências da literatura brasileira contemporânea. Nele, não encontramos a violência e a linguagem brutalista dos herdeiros do conto urbano dos anos 70 (cujos modelos são Rubem Fonseca, Dalton Trevisan ou João Antônio) nem um universo introspectivo ou bizarro, outra marca da prosa atual.

Hatoum construiu uma obra de feição quase clássica, por sua lapidação estilística. "Relato de um Certo Oriente", "Dois Irmãos" e "Cinzas do Norte" compõem uma espécie de trilogia não planejada, que parte de uma temática comum (memórias e traumas familiares) e de uma cidade (Manaus, epicentro de suas narrativas) para representar as ruínas da história brasileira e sua ruinosa inserção no mundo.

Faltava um escritor assim, capaz de recompor uma visão ampla do Brasil ao mesmo tempo em que preserva um universo pessoal que confere singularidade a sua obra.

A origem libanesa e manauara de Hatoum é responsável pelas reminiscências dos sabores da casa materna e dos aromas da natureza e pelas personagens ribeirinhas que povoam seus livros. Mas essa cor local, associada ao tema do drama familiar, corre o risco de reduzir ao exotismo regionalista, ou à saga do imigrante de identidade flutuante, um autor que metamorfoseia sua vivência simplesmente porque nenhum escritor pode fugir da própria sombra.

Por isso, a onda de adaptações de livros de Milton Hatoum deve ser vista com entusiasmo (afinal, trata-se do reconhecimento e da difusão de uma obra de vigor incomum) mas também com alguma reserva.
A primeira iniciativa, na verdade, já tem algum tempo: a peça teatral "Dois Irmãos", de 2008, idealizada pela atriz Bete Correia e dirigida por Roberto Lage, cujo "teatro narrativo" respeitou justamente a função do narrador dos romances de Hatoum como um ordenador dos planos temporais.

Agora, surgem a HQ dos "dois irmãos" gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e as adaptações para cinema e minissérie televisiva (que incluem "Órfãos do Eldorado"). A questão é saber se ficarão restritas aos enredos de seus romances ou se conseguirão captar aquela voz autoral que conduz a ação e é a grande responsável pelo prestígio dessa obra.

De todo modo, o impacto dessas versões coloca Milton Hatoum na condição de um escritor muito adaptado, como Jorge Amado, mas que, ao contrário deste, continua sendo respeitadíssimo pela crítica e pelo meio acadêmico -e que, ao ganhar popularidade midiática, talvez realize o sonho de Oswald de Andrade: "Um dia a massa ainda comerá o biscoito fino que fabrico".

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