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Serafina

'Crianças de 57 países estudam na escola do meu filho em Londres'

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Não há oportunidade melhor para observar a natureza humana do que as festinhas de criança para as quais meu filho de oito anos é convidado quase todo mês. Em sua escola, gratuita e mantida pelo governo britânico, no centro de Londres, uma placa anuncia que estudam ali crianças de 57 países.

Como no ano passado eram 56, fui perguntar de onde vinha o novo aluno. "Do Butão", respondeu a secretária luxemburguesa, sem o menor humor.

Não sei por que absolutamente todas as festas servem minipizzas —possivelmente as mesmas nos bufês infantis de Goiânia a Seul.

Ninguém se surpreende ao ver duas paquistanesas de hijab (tradicional véu usado por muçulmanas) cantando "Happy Birthday to You" e batendo palminhas para o aniversariante, um pimpolho israelense filho de uma hipster etíope.

Rezo para que o engenheiro chinês mala não venha me alugar pela enésima vez. Em todas as festas ele me pega para falar do 7 a 1 que tomamos da Alemanha ou para reclamar do mau tempo.

Bruno Oliveira Santos
goldman zooropa #serafina90

Eis que, enquanto o animador de festas catalão organiza a dança das cadeiras, o chinês vem me encurralar perto do bolo. Até a semana passada, sentia certa dificuldade para entender o que ele dizia. Agora, porém, me conta que nasceu em Bristol e noto que seu inglês é perfeito. De repente, passo a entendê-lo com clareza. Noto que meus ouvidos preconceituosos criaram um sotaque só por causa dos olhos puxados. Imagine o que os outros não pensam do meu sotaque.

Os políticos não se cansam de repetir o mantra: os estrangeiros que querem viver no Reino Unido devem se adequar aos valores britânicos. A questão é que, para além dos clichês da rainha e do chá das cinco, nem mesmo os britânicos entendem ao certo quais são esses valores.

Mesmo após 23 anos por aqui, tenho de recorrer à Wikipedia toda vez que quero entender a diferença entre Reino Unido e Grã-Bretanha.

Nessas festinhas, o contraste horizontal de culturas se sobrepõe ao contraste vertical das gerações. Que crianças teriam sido esses adultos em Tegucigalpa ou em Atenas? Uns perderam a graça, a singularidade, a vontade de viver. Outros ganharam segurança, equilíbrio, arrogância. E quem serão essas crianças que agora estão pulando, brincando e berrando loucamente?

O tempo, essa força tão universal e onipresente quanto as minipizzas, cuida sempre de tudo e todos transformar.

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