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Serafina

O lendário Teatro Apollo ainda apresenta o 'vovô' do 'The Voice'

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De suspensório e gravata fininha, Chike sobe ao palco. Esfrega a árvore da esperança e pega o microfone pra cantar "Earth Angel". A voz é doce, o look é vintage, e a música, um clássico, foi trilha sonora de "De Volta para o Futuro": não tem como dar errado.

Mas dá. No meio da canção, um "bu" sozinho surge da plateia inferior, outros "buus" vêm da superior, um coro de "buuus" parece se formar. De repente, uma sirene estridente apita, e o "carrasco" vem dançando expulsar o calouro Chike para fora do palco.

Para quem não é chegado em vaias, bate uma baita pena do moço. E seria difícil entender por que alguém se submete à avaliação de uma plateia em que as vaias não só são liberadas como incentivadas se não fosse a relevância daquele palco para a história da música americana.

Na Amateur Night, a noite dos amadores do teatro Apollo, no Harlem, um dia foram calouros Ella Fitzgerald, os Jackson 5, Jimi Hendrix, Billie Holiday, Thelonious Monk e Lauryn Hill (que segurou a onda com firmeza impressionante para uma garota de 13 anos, diante de insistentes "buus").

Reprodução
O vovô do show de calouros - Uma noite no lendário Teatro Apollo, no Harlem, que promove talentos com aplausos e vaias despudoras desde 1934#serafina92

Essa é a 81ª temporada da Amateur Night, o vovô mais longevo e bem-sucedido de shows de calouros como "American Idol" e "The Voice". Desde 1934, a estrutura é mais ou menos a mesma: o calouro esfrega a árvore da esperança —um pedaço de tronco sobre um pedestal— e respira fundo. Já o público, sem-vergonha e parte fundamental do show, aplaude e vaia sem pudor.

O que mudou bastante foi a plateia -hoje uma festa das nações- e o repertório, em que "Earth Angel" sua para ganhar atenção entre hits de Beyoncé, Ed Sheeran e Taylor Swift.

O público esquenta com o show dos candidatos mirins. Para o bem-estar da autoestima juvenil, vaiar os "Stars of Tomorrow" é proibido (medida recente, já que não beneficiou a pequena Lauryn).

O primeiro lugar vence com uma coleção de apelos imbatível: garotas fofas dançando um mix de músicas de Michael Jackson. A presença dos pais histéricos das meninas na plateia também ajuda, já que tanto expulsão quanto vitória são garantidos no grito, com um medidor da reação captada do público.

Mas há quem duvide do aplaudômetro. Na competição dos adultos, muita gente fica indignada com o fato de Chike ter levado um pé na bunda, enquanto um concorrente que cantou um reggae sem vergonha ou afinação pareceu ter gerado uma onda de "buuus" muito mais sonora e continuou na disputa. Uma dupla de mímicos gospel leva uma salva de vaias e acaba em terceiro.

A explicação vem do apresentador-comediante Capone: "Vocês não vão querer vaiar uma atração gospel, né? Não se deve fazer 'buuu' pra Jesus."

A unanimidade da noite é a ruivinha Shawna Thomas, que solta um vozeirão que não parece pertencer a ela num cover de "Listen", de Beyoncé.

Faz tempo que o Apollo não revela uma Ella ou um Jimi, mas o público embasbacado acredita estar vendo na garota de cabelo desgrenhado uma futura estrela. Então, aplaude de pé, grita, chora: já ganhou. Se Shawna vai virar uma Billie ou uma Lauryn, é difícil saber. Mas, no Apollo, a história induz e engana bem.

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