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Serafina

Disputada por diretores consagrados, Bruna Linzmeyer 'explode' no cinema

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Bruna Linzmeyer, 23, ainda é muito nova para pensar em uma autobiografia. Mas, se fosse colocar a própria vida em um roteiro, saberia por onde começar. Dispensaria flash-backs, fast-forwards, elipses e outros recursos. Prezaria pelo básico. Começaria pelo começo.

A atriz foi alçada à condição de celebridade recentemente por seus olhos azuis e lábios carnudos, com a ajuda de alguns papéis em novelas da Globo, como a professora Juliana, de "Meu Pedacinho de Chão", e a patricinha Belisa, de "A Regra do Jogo". O espectador de seu filme imaginário, no entanto, teria de ter certa paciência até chegar às cenas de estrelato.

Bruna começaria a contar a história bem longe dali. O cenário seria Corupá, cidade natal da atriz, um pequeno município catarinense de colonização alemã e cerca de 15 mil habitantes.

Quanto ao conteúdo da sequência, Bruna fica em dúvida. "Na minha cabeça, vejo muito duas cenas. Uma quando eu saía da casa da minha 'oma' [avó, em alemão] com os meus primos para comprar pão. Íamos pelo mato e atravessávamos um riacho. Uma vez, a cidade teve uma epidemia de leptospirose e todo mundo ficou com medo de atravessar o riozinho", lembra. "A outra cena sou eu já adolescente, apaixonadinha por um menino, chegando de carro em uma cachoeira, com bebida e música, e ficando ali por muitas horas."

Mas querer e fazer são coisas completamente diferentes. Bruna, de fato, começou a escrever um roteiro (mas nada a ver com sua vida, esclarece). "É uma coisa muito pequena, nem sei se vai chegar a virar alguma coisa. Quando escrevo, as imagens passam a existir para mim", diz. E se surpreendeu com o que colocou no papel.

"Sempre achei que, se eu quisesse dirigir um filme, seria em Corupá. Aquele clássico do diretor que volta à sua cidade natal, sabe? Uma coisa delicada, poética. Mas o que eu escrevi não tem nada a ver com isso. É sombrio, agressivo, silencioso."

Enquanto não acerta o tom, Bruna não conduz, é conduzida. Depois de atuar em três novelas, a atriz investe agora no cinema brasileiro. Neste ano, ela estará em cartaz em três filmes, enquanto grava outros dois. Mas nada de comédias ou filmes mamão com açúcar. Cinema, para ela, é coisa séria.

"Filmar é desesperador. Aquele monte de gente tem que fazer uma história, porque as pessoas vão pagar para assisti-la. É uma responsabilidade. É dinheiro público. É nosso coração, nossa alma, nosso trabalho e nosso pagar de contas."

A postura comprometida agradou os diretores Neville de Almeida, Cacá Diegues, Selton Mello e Daniela Thomas, que escalaram Bruna em suas produções. Neville a dirigiu em "A Frente Fria que a Chuva Traz", Cacá em "O Grande Circo Místico" e Selton em "O Filme da Minha Vida". Já Daniela prepara-se para começar a gravar com a atriz o longa "O Banquete", inspirado em livro de Platão.

No filme da sua vida, a depender da roteirista, esse poderia ser o minuto ideal para introduzir o "turning point", um momento que altera o arco da história da protagonista. A jovem atriz não cabe mais na telinha, e precisa de dezenas de polegadas a mais para trabalhar.

Diretores dispostos a registrá-la nesta nova fase, como se viu, não faltam. Neville de Almeida, 74, que o diga. Em "A Frente Fria que a Chuva Traz", filme com estreia prevista para o primeiro semestre deste ano, Bruna interpreta Amsterdã, uma viciada em heroína que se prostitui para sustentar o vício. Para o papel, a atriz perdeu dez quilos em seis semanas, chegando a 46 kg.

O diretor de "A Dama do Lotação" e "Os Sete Gatinhos" não poupa elogios à dirigida. "Ela tem um talento extraordinário, parece ser uma atriz 20 anos mais velha", diz. "Vejo um futuro muito bom para ela, será uma das nossas atrizes mais importantes. Será não. Já é. Ela não foi bem aproveitada nessa última novela. Era um excesso de talento que não cabia na personagem."

NOVELA X CINEMA

Bruna concorda, mas só em partes. "A novela é melodramática, não é trágica. Nela, uma lágrima vale muito mais do que uma respiração", diz. "Não vou menosprezar novela, paga minhas contas. Mas é claro que não é comparável ao cinema."

Sair da televisão, portanto, está fora de cogitação. "Faço uns três filmes entre uma novela e outra e isso me deixa muito feliz."

Achar um par românico para sua cinebiografia imaginária não seria tarefa fácil. Em "A Regra do Jogo", a personagem de Bruna, Belisa, envolveu-se com os dois principais galãs do folhetim, os mocinhos Dante (Marco Pigossi) e Juliano (Cauã Reymond). O público gostou. Tanto que começaram a pipocar em sites de fofocas rumores de que a química com Cauã poderia extrapolar a ficção.

"Nosso encontro caiu em uma hora ótima, foi muito divertido e um refresco para os personagens", diz o galã. "Mas fico chateado quando as pessoas confundem as coisas. Gera um certo incômodo por causa da amizade, do encontro artístico e da química rara que a gente teve mesmo. Ela não tem preconceitos, não tem resistências, são características difíceis de encontrar em atrizes tão jovens", afirma Reymond.

Na novela, entretanto, o público ficou a ver navios.

No fim da trama, Belisa era uma mocinha sem mocinho. O final agradou a intérprete. "Por que a felicidade tem que estar no amor, no casamento? A Belisa tem 20 e poucos anos, não precisa disso." O discurso pode surpreender os colegas de trabalho. "A Marie, figurinista da novela, diz que eu sou do tipo que abraça árvore. É quase isso", ri.

A atriz é uma romântica heterodoxa. "O amor é cotidiano. Ele se faz no 'obrigado' para a caixa no mercado, no parar antes da faixa de pedestres. Mas hoje o país está machucado, existe uma falta de confiança geral. Tenho medo de que as pessoas se fechem demais, mas também tenho confiança na nova geração. Por exemplo, nesse movimento do poliamor, no qual a escolha sexual não deve ser uma questão", teoriza. "Eu me apaixono por uma pessoa, às vezes é um homem, às vezes é uma mulher. Hoje eu namoro uma mulher, mas pode ser que eu namore um homem, e daí?".

Mas Bruna também tem conhecimento de causa nos caminhos mais ortodoxos da paixão. Durante quatro anos, dos 18 aos 22, a atriz viveu um "namoro-casamento" com o ator-poeta-diretor Michel Melamed, 16 anos mais velho que ela. Michel foi o primeiro par romântico de Bruna na televisão. Na minissérie "Afinal, o Que Querem as Mulheres?", Melamed era um doutorando em psicologia que, após o término de seu casamento, tem um caso com a personagem de Bruna.

Os dois continuam muito amigos até hoje, e ela expressa sua admiração por Michel em diversos momentos da conversa. O ator é uma grande referência para Bruna e sua formação e evolução como atriz deve em muito ao seu relacionamento com ele. Assim como ao cupido que os apresentou, o diretor Luiz Fernando Carvalho, da TV Globo.

"Eu vim para São Paulo para terminar o colegial. Fazia curso de teatro, mas não tinha muita vontade de ser atriz", conta Bruna. "Aí uma hora acabou o dinheiro da minha família, e me avisaram que eu teria que voltar para Corupá, só que eu não queria de jeito nenhum."

VULCÃO

"Montei dois planos: prestei vestibular para psicologia em Florianópolis e fui para uma agência de modelos em São Paulo, pedir um teste na Globo. Inventei essa coisa, coloquei na minha cabeça que era a Globo que ia me dar dinheiro para eu cuidar da minha vida", lembra.

A agência conseguiu um teste para Bruna. "Ela era uma menina de 17 anos quando eu a conheci", conta Luiz Fernando Carvalho, que a escalou para "Afinal, o Que Querem as Mulheres?" e que a chama, brincando, de "minha Ingrid Bergman".

A percepção do talento de Bruna veio logo de cara. "Quando começamos a ensaiar, ela era um vulcão. Por causa da idade dela, tinha até que amenizar nas cenas mais fortes, como beijos e encontros amorosos." Como é muito difícil controlar um vulcão, a solução da emissora foi colocar a minissérie no ar no dia de seu aniversário de 18 anos.

A partir de agora, o roteiro daquela cinebiografia imaginária que começou em Corupá nada mais é do que uma sequência de folhas em branco, embora o futuro pareça brilhante.

Para Cacá Diegues, cineasta de mais de 50 anos de carreira que a dirigiu em "O Grande Circo Místico", "Bruna não é só uma atriz. É uma grande estrela, única e incomparável. Depois de poucos ensaios percebi que não tinha que mexer em nada do que ela já estava fazendo."

Mas quem sabe essa história ainda não reserva um inesperado "plot-twist", uma mudança radical no rumo da trama? "Enquanto eu me emocionar no trabalho, estarei bem, sou feliz nessa profissão", diz Bruna. "Mas tenho medo de um dia achar tudo muito normal. Eu ambiciono sempre o novo. Muita coisa passa pela cabeça, sabe? Quem sabe eu não seria feliz sendo uma passeadora de cães?".

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