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Serafina

Vincent Cassel fala (em carioquês) sobre sexo e cinema

Divulgação
Ator francês Vincent Cassel na Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ator francês Vincent Cassel na Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro.
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Assim que Vincent Cassel surge na tela do FaceTime, o receio de que ele encene uma versão pasteurizada de astro de cinema, como fazem muitos colegas, se esvai. Ele está sem camisa e com um pepino em mãos. É verão na Europa e o ator francês de 50 anos está na cozinha de sua casa de praia em Biarritz, no sul da França, preparando uma massa.

"Esse é o melhor lugar do país depois de Paris. Tem comida boa, ondas, chuva e sol. É tipo o Rio", diz, com a autoridade de quem leva a entrevista toda no "carioquês" fluente e já atende por Vicente.

Quando se mudou para o Rio de Janeiro, em 2013, era chamado de Vinícius. Ouvir um "vançan'', a maneira francesa de pronunciar seu nome, nem pensar.

"Meus amigos são músicos e pessoas da praia. Estou fugindo um pouco do círculo francês, não quero ficar em um gueto gringo", diz o ator, que mora no Vidigal e circula pela cidade de skate e moto.

"Eu também adoro me perder. Às vezes, vou para academia, encontro alguém, saio para tomar uma e acabo em uma festa".

A farra, não raro, se dá em casas de samba da Lapa e de outros bairros do centro. Em uma dessas, conheceu o sambista Mosquito, empresariado pela amiga Paula Lavigne, e o convidou para tocar no festival de música brasileira Onda Carioca, que organiza pelo segundo ano em Biarritz e nas vizinhas Bidart e Saint-Jean-de-Luz.

O rapper Rincon Sapiência e os músicos Inácio Rios e Rogê completam o lineup do evento, que acontece de 20 a 27 de agosto.

"Os franceses ouvem e dizem 'Ah, isso é música brasileira'. Sim, mas qual? A música brasileira não é uma só", diz o francês, que ouve de Cartola ao funk "Deu Onda", considera João Gilberto "Deus" e Xande de Pilares, ex-vocalista do grupo de pagode Revelação, "foda".

Antes da música, porém, Cassel tem um compromisso com um gueto mais difícil de escapar: o do cinema brasileiro. Ele estrela "O Filme da Minha Vida", terceira incursão do ator Selton Mello como diretor, que estreia no dia 3/8.

Baseado no livro "Um pai de cinema", do chileno Antonio Skármeta, e ambientado em uma cidadezinha da Serra Gaúcha nos anos 60, o filme conta a história do jovem Tony Terranova (Johnny Massaro), professor recém-formado na capital que volta para casa e vê o pai (Cassel) ir embora sem maiores explicações. Além de encarar dilemas do começo da vida adulta -como o debute na vida sexual, entre o encanto pelas meretrizes de um bordel e o amor pela irmã de um aluno (Bruna Linzmeyer)-, o protagonista tem que lidar com a angústia da mãe abandonada e as próprias questões sobre o paradeiro do pai.

"Quando apontei a câmera para o Cassel pela primeira vez entendi porque se tornou um astro mundial. Tem uma potência grande ali, em cada frame. Ele é uma força da natureza", diz Selton, que também atua no filme. "É daqueles caras que quando você diz 'ação' faz tudo acontecer sem esforço."

PAIXÃO, NÃO PROFISSÃO

A naturalidade com que dá vida aos seus personagens pode ter uma explicação: Cassel não encara o que faz como um trabalho de verdade.

"Vejo como uma paixão, um jeito de viver. É uma profissão que não tem regras", diz. "Você pode ter talento e nunca fazer algo legal, e, ao mesmo tempo, ver muita gente sem talento algum ganhando um monte de dinheiro. É um jogo, como o poker."

Mas Cassel levou um tempo para olhar as cartas que tinha, mesmo tendo crescido em um ambiente sugestivo - é filho do ator Jean-Pierre Cassel, que trabalhou com cineastas como Luis Buñuel e Claude Chabrol, e passou parte da infância no cinema que ficava dentro de um cassino dirigido pelo avô, em Paris.

Os primeiros aplausos que recebeu de uma platéia foi em um circo por uma performance como palhaço acrobata. Lá aprendeu a ser ligeiro na arte de prender a atenção do público. Dos 16 aos 22 anos, calçou sapatilhas e se dedicou ao balé.

"No início, eu pensava que um ator devia saber fazer tudo, acrobacia, malabarismo, dança. E o balé dá uma base para todo o resto, é um meio de conhecer o corpo. O bailarino é o ser humano mais equilibrado fisicamente", diz.

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Ator francês Vincent Cassel na Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro. ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ator francês Vincent Cassel na Praia do Arpoador, no Rio de Janeiro.

Ironicamente, é equilíbrio emocional que falta aos personagens mais marcantes que interpretou. Logo em sua estréia, no longa francês "O Ódio" (1995), vive um judeu que sofre a rotina de discriminação e violência policial ao lado de um amigo negro e um árabe no subúrbio parisiense e jura um policial de morte. Em "Irreversível" (2002), o da polêmica cena de estupro de nove minutos, é o namorado desesperado que busca vingança pelo crime.

Cassel acabou revisitando o mundo do balé como o exigente diretor da companhia da bailarina vivida por Natalie Portman em "Cisne Negro" (2010). Da atmosfera circense, pôde atenuar a saudade no longa "O Grande Circo Místico", de Cacá Diegues, que estréia no fim do ano. Em seu quarto filme no Brasil -fez "À Deriva'' (2009), de Heitor Dhalia, e a história dirigida por Fernando Meirelles em "Rio, Eu Te Amo" (2014).

"Escrevemos o roteiro pensando nele", diz Diegues.

Os autores de novela, no entanto, não deveriam perder tempo fantasiando sobre o francês. "Recebi vários convites, mas não quero essa proximidade com o público. Não quero aparecer na televisão na cozinha, com todo mundo, todo dia e na mesma hora. A coisa linda do cinema é ser uma ficção quase intocável", explica.

"Em novela você tem que produzir muitas cenas e fica sem tempo. Acho que estraga um pouco o ator, faz com que perca a sutileza em atuar."

BON VIVANT

A certa altura da conversa, Cassel se esparrama no sofá. Dá para notar a barba de três dias, grisalha como os cabelos. Os olhos ainda não sei se estão mais para o azul ou o verde, certo é que o nariz não é mero figurante na composição. Será que é o típico galã feio o homem que deu rosto à campanha de uma fragrância da Yves Saint Laurent em 2009 e foi casado com a musa italiana Monica Bellucci por 14 anos? Os frutos do relacionamento, aliás, as filhas Deva, 12, e Léonie, 7, que vivem com a mãe em Paris, estão por perto.

"Elas são lindas, e falam 'brasileiro' muito melhor do que eu."

Quem também está por ali é a modelo italiana Tina Kunakey, 20, com quem ele assumiu namoro no fim do ano passado.

"Quando você envelhece, acaba se achando um pouquinho pela experiência que tem. Mas o mundo está sempre mudando e uma pessoa mais jovem traz coisas que você já não entende. Ela me faz ser mais flexível na minha visão das coisas", diz o ator, que já esteve do outro lado. Sua primeira vez foi aos 13, com uma moça de 20 que mal conhecia.

"É uma coisa bem masculina ficar entre o amor e o sexo. O amor é algo que a gente precisa receber e dar, mas o tesão é primordial na vida do homem. As mulheres costumam ter uma relação mais pragmática com o desejo, já nós precisamos de uma história de tesão quase cotidiana", reflete.

"É um problema quase impossível de se resolver, temos sempre que nos desculpar por esse tesão, mas busco uma solução até hoje".

Antes que Cassel mande um "au revoir" ou um "a gente se fala, então", pergunto se a prancha pendurada na parede é só para decoração.

"Não sou um bom surfista, mas gosto de surfar. É como diz a frase: 'O melhor surfista é aquele que se diverte mais'."

VEJA MAIS

Trailer do filme "O Filme da Minha Vida", de Selton Mello, estrelado por Vincent Cassel

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