Relação entre games e arte é tema de exposições
Se alguém lhe perguntasse qual sua obra de arte favorita, você responderia Super Mario ou Pac-Man?
Provavelmente, não, certo? Mas a discussão sobre o elo entre videogame e arte, correlação feita e desfeita há quase quatro décadas --data que remete à origem dos jogos eletrônicos--, ganha espaço entre pesquisadores, acadêmicos e jogadores.
Reprodução | ||
Shadow of the Colossus (2005), considerado obra de arte para críticos de jogos |
Duas exposições, uma no Brasil e outra nos Estados Unidos, ecoam os argumentos dos defensores da classificação dos games como obras e plataformas de arte.
Em São Paulo, a mostra Game On, que explora a história, a cultura e o futuro dos games, estreia amanhã no Museu da Imagem e do Som.
"A Game On pretende se distanciar das feiras tradicionais de videogames. É uma exposição lúdica e também uma exposição de arte", comenta André Sturm, o diretor-executivo do museu.
O público poderá jogar mais de 120 títulos, entre consoles novos e antigos. Também poderá conferir influências culturais nos jogos eletrônicos e painéis que tratam do contexto social da época da criação dos games.
Concebida originalmente pelo Barbican Centre, de Londres, a Game On chega a São Paulo após passar por dez países. A versão paulistana terá ainda um ciclo de palestras e debates com especialistas da área. Serão abordados temas como roteiro e design de jogos e inteligência artificial.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Depois da Game On, jogos voltarão a um espaço museológico em março, em Washington, quando o Museu de Arte Americana do Instituto Smithsonian abrirá a mostra A Arte dos Videogames.
Na exposição, 80 games foram selecionados para representar a história do meio, dividida em cinco eras e incluindo clássicos como Space Invaders (1980), Pac-Man (1981) e Pitfall (1982).
"Minha esperança é que a exposição sirva como um passo significativo para uma compreensão mais ampla dos jogos de vídeo como uma forma de arte", diz Chris Melissinos, curador da mostra.
O discurso do curador está em sintonia com uma recente decisão do governo norte-americano, que passou a permitir que jogos eletrônicos concorram a verba do fundo nacional para desenvolvimento das artes.
Melissinos é figura carimbada nos eventos de tecnologia mais importantes do mundo. Antes de ser curador da exposição The Art of Video Games, ele colecionava consoles e fundou a PastPixels, empresa criada em 2009 para preservar a memória dos games. Melissinos se define como um futurista e "apaixonado por qualquer coisa que tenha um pulso eletrônico".
Leia trechos da conversa de Melissinos com a Folha.
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Folha - Afinal, game é arte?
Chris Melissinos - Sim. Videogames são uma forma de expressão artística única. O designer que cria o jogo pode construir um enredo prédeterminado, mas o jogador controla a experiência. Não há outra forma de mídia que possibilite a interação do que eu chamo de "três vozes": a voz do designer, a voz do jogo e suas mecânicas e a voz de quem joga.
Há algum elemento em especial que defina o game como arte? Visual, enredo, jogabilidade?
Para mim, os jogos de mais sucesso são os que equilibram todos esses aspectos. Para a exposição, destacamos games que refletem um período específico no tempo por meio da reflexão social, da tecnologia disponível, das técnicas artísticas etc. O objetivo é demonstrar aos visitantes que os videogames são mais do que aquilo que parecem ser à primeira vista.
Algum game que você considera importante ficou de fora da exposição?
Chrono Trigger e The Legend of Zelda: A Link to the Past competiram diretamente. Foi uma tarefa praticamente impossível votar. No fim, Chrono acabou vencendo.
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GAME ON
ONDE Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, São Paulo, tel. 0/xx/11/2117-4777)
QUANDO de amanhã a 8/1. De ter. a sex., das 11h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 21h
QUANTO R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
CLASSIFICAÇÃO Livre, mas alguns jogos expostos têm classificação indicativa própria. Monitores e placas informativas orientarão os visitantes.
SITE www.mis-sp.org.br
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